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Débora Correa nasceu em Espumoso, cidadezinha com pouco mais de 15 mil habitantes no Rio Grande do Sul. Ao contrário da cidade, de pequena Débora não tem nada. Além de Espumoso, ela é de uma infinidade de cidades interioranas e também de Curitiba, de Porto Alegre, de Florianópolis, de João Pessoa. Até da Argentina e do Paraguai. Débora é do mundo. E tão importante quanto todos esses lugares já visitados por ela, são os momentos que interpõem um destino e outro. É a estrada, são as caronas. É, como ela mesma diz, essa tal vida maravilhosa que eu levo. 

 

No primeiro contato com Débora, ela estava há quase três meses sem cair na estrada por conta dos estudos para o vestibular de Música. Os resultados, que vieram entre uma entrevista e outra, mantiveram as portas das universidades fechadas para ela, mas reafirmaram que, na estrada, as únicas portas a serem abertas são as dos caroneiros. E essas, Débora aprendeu desde cedo como conquistá-las.

 

Ao 17 anos, Débora foi desafiada, por uma amiga, a pegar carona. Sem saber muito do universo dos caroneiros, as duas esperaram na estrada. Nas mãos, uma folha de papel com o nome da cidade e a indicação de que eram estudantes. Logo na primeira viagem, foram cinco caronas só para ir e, com isso, conheceram motoristas assustadores, como um caminhoneiro que segurava uma pistola com a mesma mão que passava a marcha. 

 

Débora faz amigos nas caronas que pega. Ao som de Pink Floyd e Alceu Valença, e junto com Jean, o amigo que a acompanha nas viagens, ela já conheceu uma infinidade de caroneiros. Jairson, Rodrigo e Gustavo são, talvez, os mais marcantes. Jairson era caminhoneiro e contava histórias de sua vida para os dois companheiros de viagem. Viajaram bebendo cerveja e ele ainda deixou que ela conversasse com outros caminhoneiros pelo seu rádio comunicador. Mais tarde, em uma outra viagem, Débora e Jairson se encontraram novamente na estrada. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Débora bricando com o rádio comunicador de Jairson.

Créditos: Jean

 

Rodrigo foi uma das experiências de maior socialização durante uma carona. Ela e Jean o conheceram em uma rodovia em João Pinheiro. Queriam ir para Francisco Beltrão e Rodrigo ia para Pato Branco. Assim que entraram no carro, já colocaram o pen drive para tocar música e Rodrigo ofereceu cerveja. Os dois amigos convenceram o motorista a ir junto com eles até Francisco Beltrão. Ele concordou, contanto que eles ajudassem a encher o tanque do carro. Foi a única vez que Débora fez algum tipo de contribuição para uma carona. 

 

Gustavo é argentino e não falava nada de português. Parou para dar carona à Débora e à Jean em Bernardo de Irigoyen. Jean foi dormindo no banco de trás e Débora irritada, pois não falava espanhol e quem vai na frente fica responsável por conversar com o motorista. Na volta para o Brasil ela e Jean decidiram passar a noite em um posto na BR, porque pegar carona nesse horário é mais difícil e perigoso. No dia seguinte, conseguiram caronas até chegarem em Curitiba.

 

Como caroneira de longa data, Débora também já passou por maus bocados. Na estrada para Porto Alegre, dessa vez sozinha, ela subiu em um caminhão e, quando se deu conta, o motorista queria que a regalia fosse paga com um programa sexual. Débora disse que era estudante. Ele a expulsou do veículo. 

 

Entre as vezes que conversamos ao longo do mês, Débora não deixou de ser do mundo. Descobriu o resultado do vestibular e foi para o Paraguai. Claro, mais uma vez, de carona. Inspirada por Jack Kerouac, chegou à conclusão de que faculdade, talvez, não seja pra ela. Aos 23 anos, com a empolgação de quem conta seus sonhos, Débora jura: o que eu quero é a estrada e, apesar do nosso contato ter sido via Facebook, é possível sentir a adrenalina de cada uma dessas palavras.

 

Débora nasceu pra ser do mundo. E, já avisa, em breve também será de Minas Gerais. 

 

 

 
 
 
 
 
 
 

 

Essa tal vida maravilhosa

Débora pedindo carona na estrada para Porto Alegre. 

Créditos: Débora Correa.
 

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